Inspiração em forma de notas e acordes

O silêncio que mascara a razão- Parte VI - Penúltima parte

terça-feira, 19 de abril de 2011

 Penúltima parte.


Seus olhos vagueavam o bar, sentia uma náusea profunda, sentia um pesar no ambiente, sentia um desequilíbrio impregnado em cada local, em cada canto, em cada sorriso, em cada conversa.. Passara a noite entre "idas e vindas" de tonturas e ânsias de vômito. Mal percebeu o momento em que tudo se transformara. O ambiente agora virara cenário. Mais parecia uma peça de teatro com vários atores e atrizes se empolgando e se doando para exercer com maestria os seus papéis. Pareciam bailar todos em uma estranha sintonia que o lembrava algumas valsas de antigas colegas em seus bailes de debutante, ao mesmo tempo doces e sem ritmo. Tudo agora assumia cores distintas de matizes sóbrias, tristes, sombrias. A arte se misturava ao delírio. O nosso herói tinha a certeza de que só havia consumido álcool e nenhuma outra droga. Antes de se entregar em maiores análises da lúdica imagem que perturbava ali o seu resto de racionalidade, percebeu que todos punham suas máscaras. Sim! Eram espécies de máscaras. Cada uma trazia um semblante diferente estampado, mas todas as pessoas portavam suas máscaras. De alguma forma aquilo lembrava um festa carnavalesca sombria ou mesmo uma festa veneziana. O que quer que fosse aquilo tirava a paz de nosso herói. Todos aqueles que ele se empenhara a entender e a analisar, agora se misturavam entre si como numa espécie de rito bacanal, com sorrisos aleatórios estampados em máscaras. O mais intrigante veio depois. Ao sair do local, a maioria das pessoas tirava sua máscara e a colocava pendurada em guardadores situados ao lado da porta. Algumas outras insistiam em carregar e saíam portando os mesmos curiosos ornamentos. Pouco a pouco a "lucidez" voltava ao nosso solitário herói , e ele então havia enfim entendido o significado de suas análises. Pode então entender que tudo o que os motivava, que tudo o que os movia a festejar era fruto de falsas alegrias, mantendo falsas expectativas de um futuro falso, incerto e amargo. Percebeu que toda aquela novidade que procuravam não era algo novo, mas apenas diferente e mesmo velho em si. Velho em sua essência. Velharia. Percebeu que todas aquelas vidas eram cenários de grandes obras teatrais e que vestiam máscaras, para esconder a intensa tristeza que os assolava. Percebeu que tentavam mascarar a dor em comemorações ao tudo e ao nada. Percebeu que ao mascarar a tristeza, mascaravam a razão. Também observara que o seu silêncio que por muito tempo fora seu inimigo opressor mas ao mesmo tempo escudeiro fiel, se transformara num excelente professor. O silêncio mascara a razão. O silêncio escondia a razão. Mas não com essas falsas máscaras que os nossos amigos de bar dispunham e portavam. O silêncio apenas guardou essa razão dentro do nosso herói, porque ela havia, há muito tempo, sido presa. Havia sido sufocada. Começou então a lembrar de tudo o que renunciara, de todas as máscaras que construíra, de todas as vezes que negou a verdadeira razão, assumindo uma verdade enganosa e desleal. Percebeu que não travava apenas uma conversa consigo msm. Não apenas ouvia o seu silêncio. Enfim, percebeu que o autor daquilo tudo era o mesmo autor que tanto em sua vida se manisfestara. Era Deus. O mesmo Deus em que acreditava. Ele estava ali. Nosso herói então percebe que não mais sentia nenhum efeito da bebida e nem muito menos as consequências que lhe havia  causado. Decidiu levantar. Decidiu seguir.

Continua...

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