Madrid, 15:30 do dia 15 de abril do ano de 1971
Javier já esperava pelo chefe de polícia que havia voltado à casa dos Mallardo. Ele ainda estava caminhando no labirinto dos seus pensamentos quando o chefe de polícia, seu amigo Carlos Navarro, o interrompeu:
- Javier, se tem algo que ainda gosto do cargo de chefe de polícia é o tempinho que temos para descansar depois do almoço. - Falou rindo o chefe.
- Isso você é quem faz. Abuso de poder. Nesse intervalo de tempo existem casos chegando a sua mesa.- Javier contribuiu com o humor do amigo.
- Vamos ao que interessa. Alguma novidade? Suspeitos?
- Tenho sim. Pedro Fuentes.
- O marido. Já havia pensado nele. Parece bem lógico, a fortuna da mulher para ele.
- Por ser lógico demais é que eu tenho as minhas dúvidas. Mas eu estou com uns pensamentos que ainda parecem confusos. Irei interrogar o marido de Isa.
- Se precisar da sala de interrogatório da polícia, pode me avisar que eu libero.
- Agradeço Carlos. Mandem chamá-lo na casa dos seus pais. É onde está, não é?
- É sim. Mas está sob aviso. Mandarei um dos policiais. Trarei dentro de alguns minutos.
O chefe de polícia já se retirava quando o detetive o chamou novamente.
- Carlos. Procure saber quem é o advogado de Isa. Quero saber se ela mantinha um testamento ou planejava fazer.
- O que quer saber exatamente?
- Se o quesito em questão é a fortuna da vítima. Quero saber ao certo quem são os mais beneficiados.
- Pois bem Javier. Providenciarei a presença dos dois.
- Primeiro me traga Pedro Fuentes. O depoimento dele pode me livrar de alguns aborrecimentos com burocracia e com a esperteza dos advogados. Eles conhecem as regras.
- Ainda é o velho Javier. Voltarei logo. - Saiu rindo e balançando a cabeça.
Javier agora estava só e ainda estático. Mantinha um sorriso enigmático e cínico, que aquele homem tinha quando havia deixado algo passar.
*
Trinta minutos após...
- Javier, aqui está Pedro Fuentes. - Disse o chefe de polícia pedindo para que o suspeito se sentasse. Carlos havia voltado e já se despedia,antes avisando que um policial ficaria de guarda.
- Pedro Fuentes. É um prazer. Me chamo Javier, detetive convidado para ajudar neste caso. Digamos que o chefe de polícia confia em mim e gosta dos meus métodos.
- É um prazer detetive. Eu espero que tudo se solucione rápido. É muito doloroso para mim conviver com isso tudo.
- Eu respeito isso senhor. Pode paracer ofensa o que irei fazer, mas faz parte do andamento de todo o processod e investigação. Vou fazer algumas perguntas, preciso que seja claro.
- No que eu puder ajudar senhor...
- Sua relação com a sua mulher era conturbada? Tenho alguns depoimentos que me afirmaram isso. - Mentiu o detetive.
- Não detetive. Tínhamos uma relação normal. Nos amávamos, dividíamos a mesma casa. Não eram cabíveis aqui descontentamentos.
- Senhor Fuentes. E uma traição? Isso desestruturaria um casamento? Isso tornaría as coisas mais cabíveis?
O suspeito agora passava os olhos de um lado para o outro e ainda tentava balbuciar algumas palavras.
- Nn..Na...Não me diga que o senhor está insinuando que eu tenha matado...
- Não estou insinuando nada, senhor. Apenas estou averiguando os fatos. E um desses fatos é que Isa tinha um amante e o senhor sabia disso.
- Eu soube faz um mês - Baixou a cabeça como que envergonhado - Ela andava estranha. Eu fazia tudo por ela, para ela e, de repente, eu encontro uma carta anônima no bolso da sua calça.
-Ela não imaginava que você pudesse encontrar a carta ali?
-Eu fingia que nem desconfiava detetive. " Eu e Isa nos conhecemos num baile. Ela era muito formosa, linda, rica, atraente. Ela tinha ido ao baile com um acompanhante que é filho do banqueiro Xavier Santana. Seu nome é Lucas Santana, hoje presidente do Banco Santana. Mas ele era apaixonada por uma garota simples, porém bela, e que também havia ido àquele baile. Parecia esperá-lo. Isa e ele discutiram e então ele partiu ao encontro da outra, e deixou Isa sozinha no meio do salão. Fui em direção a Isa e comecei a conversar.Conversei assuntos sobre a festa, sobre coisas de qualquer papo inicial. Nunca fui rico. Minha família é de classe média e fiquei surpreso por ela conversar normalmente comigo. Ela também era simples no seu jeito. Estava um pouco deprimida e ficamos conversando e dançando toda a noite. Pouco a pouco fomos nos apaixonando. Tínhamos outros encontros, até que casamos. Foi lindo o casamento, mesmo com reprovações por parte de alguns familiares. Então passamos a viver juntos nessa casa. Isa era louca para ter filhos, mas eu não podia ter. Sou estéril. Tentamos algumas vezes mas nunca conseguimos. Ela sofria quando a sua...você sabe.. descia. Porém, mesmo com todo esse problema nossa vida era ótima. Até que há um mês atrás, ela havia ficado triste, cansada. Não me correspondia mais nos carinhos como antes. Nunca mostrei desconfiança apesar de tudo. Por vezes dormia e a deixava ainda acordada. Até que encontrei essa carta em sua calça. Dizia: ' Espero-te hoje a noite.' . Não sabia como essa carta chegara a ela, porque era eu o encarregado de cuidar das correspondências que nos eram enviadas, e nunca vi nada parecido com aquilo. Perguntei aos empregados se sabiam ou viram algo, mas não sabiam. Adverti Miguel, o porteiro, que se chegasse algum homem procurando por ela, que me chamasse e eu resolveria. Estava decidido a resolver isto. Mas nunca apareceu ninguém. Ela passou a sair algumas vezes em encontros de amigas para mostras de galerias artísticas. Ás vezes dizia que ia se encontrar com seu irmão para resolver assuntos de família. Luca e Isa haviam se afastado um pouco. Eles não se davam muito bem desde então. Até que chegou o dia de ontem. Ela chegara tarde da empresa e estava estressada. Me disse que era o trabalho. Mas eu a percebi um pouco aflita ou espantada. Tomou um banho, não comeu nada e logo deitou na cama comigo. Transamos e depois ela dormiu, sem nem conversar sobre o que estava acontecendo. Eu preferi esperar até que ela se acalmasse mais para que eu a revelasse que sabia de tudo. Naquela noite a olhei dormindo,por um tempo, e depois também acabei caindo em sono. Pela manhã, já era cedo, percebi sua falta e levantei da cama para saber onde poderia ter ido. Talvez apenas tivesse ido no andar de baixo. Quando saí do quarto ouví o ranger da porta do quarto de hospédes. Caminhei até lá curioso por estar aberto, Isa o mantinha sempre fechado. Mesma assim imaginei que ela pudesse ter esquecido e o vendo era quem a tinha aberto. Aproximei-me e pude ver a cena que ainda não saiu da minha cabeça. Isa estava jogada no chão. Estava ensaguentada. De primeiro impacto saí do quarto e fui chamar os dois empregados que naquele dia ficavam o dia todo lá,Vítor e Miguel." Então chamamos a polícia senhor detetive.
- Pois bem senhor Fuentes. Comentara que ela não estava bem com o seu irmão. Sabe o motivo?
- Não. Certo dia os ouvi discutindo. Mas eu fui criado de uma maneira diferente das pessoas ricas de Madrid. Não costumo ouvir conversar que não me dizem respeito. Isa me falava que não queria me intrometer nos assuntos da família dela. Eles não era a favor do nosso casamento.
- Não conseguiu pegar nada da conversa nem ocasionalmente?
- Apenas que estavam discutindo sobre a porcentagem da herança. Eu percebia que Luca reclamava por ter ficado com menos do que Isa. Logo a empresa era dela por maioria da porcentagem.ELe reclamava que ela não se importava com a família. Ouvi também que ele estava indo para a Itália falar com Matarazzo. Esse é um amigo antigo do casal Mallardo, e também dos seus filhos. Foi o que eu pude ouvir quando estavam num tom mais alto senhor Javier.
- Tudo bem senhor Fuentes. E quanto ao quarto de hóspedes. Ouvi o senhor falando que ele vivia fechado...
- Isso senhor. Fazia tempo que ninguém nos visitava, apenas Luca porque a casa também era sua e suas amigas algumas vezes, mas nunca dormiam lá. Algumas vezes ela mesmo arrumava o quarto e o trancava novamente.
- Algum dia a camareira chegou a arrumar esse quarto?
- Creio que não detetive. Não que eu saiba. Ela se limitava ao nosso quarto, o de Luca e o do casal Mallardo. Arrumava também os outros aposentos da casa.
- Ela tinha alguma relação com Isa? Amizade...
- Isa gostava dela sim. Ás vezes elas conversavam sobre os homens que cortejavam Lúcia. Por que detetive?
- Não posso dizer com clareza agora senhor Fuentes. Estas informações no momento são confidenciais. Peço que não se ausente e nem se afaste daqui de Madrid. Poderemos precisar novamente dos seus depoimentos. Por enquanto está liberado. Obrigado senhor Fuentes.
- Por nada senhor Dantas. Descubra quem é o assassino.
- Quando o senhor menos esperar Pedro - Esboçou um sorriso e indicou a saída para alguém que conhecia aquela casa mais do que ninguém.
O policial levara Pedro Fuentes embora dali. Javier tinha esclarecido alguns pontos e confirmado outros. A camareira havia mentido. Ela não costumava arrumar o quarto de hóspedes. Por que mentia? Será que queria encobertar algo ou alguém? Será que conhecia quem era o amante de Isa? Será que facilitava a sua entrada? Porque o porteiro havia mentido quando disse que havia chegado um homem a procura de Isa. Será que ele não contou a Pedro? Será que não tinha ocorrido tal fato? Ou será que era Pedro que estava mentindo? Javier tinha muitas questões sobre tudo. Mas tinha uma certeza. Todas essas pessoas se conectavam em algo. E ainda tinha o desentendimento de Isa com seu irmão. Matar por raiva de ser o segundo beneficiado ou por motivos de família é muito corriqueiro. E esse Matarazzo? Quem era? Javier Dantas tinha algumas respostas a buscar, e começaria com a camareira, Lúcia Rimbas.
Cap 6 Pedro Fuentes
sábado, 11 de julho de 2009
Postado por
Rodrigo Seixas
às
15:31
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