Exortação à loucura. Parte II
sábado, 21 de janeiro de 2012
Não passavam das cinco da manhã e o nosso jovem rapaz já estava de pé. Havia criado uma estranha mania de acordar mais cedo do que todos para vagar pela casa. Segundo sua irmã, que um dia ao levantar para ir à cozinha tomar um copo d´água o vira andando e conversando sozinho próximo ao banheiro, já percebia indícios de que seu irmão estaria louco. Seu comportamento já era uma questão de processo, existia já há um tempo, mas suas convicções ainda mais se afirmaram, e ele insistia em, no horário do almoço, fazer todo um ritual de silêncio antes de colocar sequer um grão de feijão na boca. René, assim ele se chamava. Apelidado quando criança de “Neneca”, mantinha ainda sua leve inocência de garoto quando insistia em se jogar pela casa com os cachorros, misturando-se sem dissociação de raça ou espécie. Dotado de uma inteligência fora do normal, sempre fora aluno exemplar no colégio e sempre fora uma pedra preciosa para todos os que se consideravam seus amigos. Mas era louco! E como todo louco vivia de certa forma desacreditado pelos outros. Mas não era à toa que dele duvidavam, ele dizia que “via anjos”. Certo dia se trancara no seu quarto e começara a conversar com eles. Segundo sua mãe, ele não parava de conversar. Contava da sua vida, das suas experiências, do seu dia. Desde pequeno que mantinha pouca conversa sobre seu cotidiano com seus pais. Não por falta de vontade, mas por mera negligência paterna. Isto o travara. De feita em feita sua mãe encostava no chão da porta para ouvir seu menino conversando, se abrindo, se soltando e não controlava o choro. Ele quase não falava mais em casa. Ela ainda relatou que René ainda jovem, mantinha claros indícios de insanidade. Ele conversava coisas que ninguém entendia. Ao perguntado por ela, dizia: “ São eles que estão me ensinando. Eu gosto."
Postado por
Rodrigo Seixas
às
11:53
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