Inspiração em forma de notas e acordes

Exortação à Loucura - Parte VI

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012


“ Deus, como assim você viu a Deus? ”- Essa afirmação tão de repente me deixou um pouco surpreso e estagnado. Já tinha assistido casos de que as pessoas viam outras pessoas já mortas, espíritos, mas nenhuma até hoje afirmara ter visto o próprio Deus. Comecei a concordar em parte com seu diagnóstico de insanidade, mas tinha que entender primeiro. “ Você o viu de verdade e como ele é?” – Perguntei tomando bastante cuidado com o tom do questionamento. – “Vi sim, com esses mesmos olhos aqui, porém vi além, mais profundamente como que enxergando com os olhos da alma. Eu o senti muito presente e não me esqueço do primeiro dia em que eu o vi. Tudo mudou,  o ar, as cores, os sentimentos, de repente uma grande paz começou a invadir o meu corpo e eu não mais conseguia fazer outra coisa além de rir. E rir um bocado”. – Então como que num interesse fora do comum, pedi ao René para me explicar melhor o acontecido, de certa forma me parecia algo fenomenal, então ele começou a contar como uma criança contando uma historinha que acabou de conhecer na escola : 
Era um dia domingo normal, quando teria que ir à igreja com meus pais, porém minha mãe estava muito doente e não poderíamos sair naquele estado. Tranquei-me em meu quarto e comecei a conversar com Deus sobre a minha tristeza, ora por não ter ido à igreja, ora pelo estado em que a minha mãe se encontrava. De repente me vi mesmo conversando horas a fio com Deus à espera de que Ele de alguma forma me respondesse. Eu sentia que eu não era normal, eu sentia coisa estranhas, pensamentos que os outros não pensavam. Eu queria ir além, queria saber quem era Deus e se todos diziam que Ele era pai e amigo, eu queria provar disso, queria-0 ali naquele momento. Queria que ele curasse a minha mãe, queria que ela tão somente me fizesse vivo de verdade. Foi então que primeiramente comecei a chorar e a tremer como nunca. Achei que estava tendo um acesso nervoso ou algum colapso de qualquer origem. Passei a cantar músicas que eu desconhecia, numa língua que tampouco conhecia e nem sabia se existia. Acredite se quiser, acostumei-me a ser chamado de louco, mas não parou por ai. Senti minha pele arrepiar e um friozinho gostoso a me acariciar. É, um frio acariciante, nunca havia sentido, e eu ri. Ri pra valer. E foi então que por último, eu o vi, Ele estava lá...olhando pra mim.”- Interrompi  René logo em seguida e o perguntei como era a visão que ele teve. Sinceramente pouco me importava se estava de frente com um louco ou um santo, mas o fato é que me era interessante tudo aquilo. René me respondeu: “ Ele era. Apenas era. Não vi muita coisa além de uma luz, mas sei que seus olhos, através daquela janela luminosa, compenetraram os meus  e um sentimento de bondade e amor como nunca havia sentido tomou conta do meu coração. Eu me enchi de glória. Isso me bastou, eu comecei a ter a certeza ali de que eu estava louco e dessa loucura eu iria morrer.” – Essas foram as palavras do nosso amigo, contando sua experiência, onde o mesmo afirma que fora o início de sua loucura. Sinceramente, eu quero acreditar que isso exista. Mas calma, esse não é o fim, ainda não estamos lá.- Quando eu estava me despedindo do definitivamente louco René, o mesmo pegou em minha mão e me convidou pra sair. Suas palavras foram: “ Venha, quero te mostrar um dos meus segredos. O alicerce da minha loucura”. E puxou-me.

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