O silêncio que mascara a razão- Parte IV
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Era ja a segunda hora da noite. Eu,narrador,ouso-me a contar, pois o nosso heroi ja não distinguia os ponteiros do relogio.Mas continuava seus pensamentos. Ele que por muito tempo viveu imerso em suas reflexões, nunca havia vivido este momento com tamanha percepção de critica. Verdadeiramente ele estava disposto a entender. Ele queria se entender, talvez entendendo os outros.Lembrava das aulas na igreja que frequentava quando mais moço. Aulas que sempre o ensinava a ser observador dos fatos, não cometer os mesmos erros dos outros, tomar os acontecidos como experiência propria. Não era tão verdade assim.Parece que existe algum dispositivo de auto-senso que apenas é acionado quando nos ousamos a viver tão fato, a arriscar tal situação. Ainda que ouçamos o "eu avisei" ( este qual ele ja não mais suportava), é preciso muitas vezes entender com nossa propria experiência.Ë preciso que nos faça doer, para que nos lembremos de que não vale a pena viver tamanha dor outra vez. Engraçado, ele ja não mais se permitia pensar nas coisas que aprendera na igreja. Parece que de certa forma elas eram colocadas em xeque naquele momento. Por muito tempo nosso heroi foi membro ativo de uma conservadora Igreja Batista da cidade de São Paulo. Crescera fazendo projetos sociais, participando dos eventos e adicionando valor ao conjunto musical que tocava jubilos em todo culto. Porém a vida foi tomando seu rumo e o entregou numa nada confortante encruzilhada. Seu pai veio a falecer. Era ele, sua mãe e mais duas irmãs. Ele meio que se sentia o novo homem da casa, e a cobrança em cima do nosso garoto era realmente muito forte. Ele precisava se desenvolver. Correu atras do seu. Enfiou a cara nos livros e se formou em economia pela Universidade de São Paulo. Foi, com sobra, o melhor aluno da turma. Especializou-se em consultoria financeira, e disso tirava a sua vida. Uma otima vida financeira, a proposito. Mas desde então não entendia o valor da eterna busca pelo desenvolvimento. Por mais que ele "crescesse" na vida, a vida parecia diminuir em sua frente. Perder forma, perder graça. Enquanto aqueles estrangeiros buscavam a novidade, ele apenas queria buscar algo diferente. Não novo. Algo que o fizesse entender o seu proposito de existência. Por que perdeu seu pai? Por que logo naquele momento? Antes que seus olhos se mareassem, dois gays começaram a gritar e a dançar na pista. Eles eram verdadeiramente "gays", no sentido genérico da palavra. Eram alegres. Dançavam como se não existisse uma plateia olhando e rindo para os mesmos. Eles não se preocupavam em ser discretos. Chamar atenção era o que eles sabiam de melhor. Porque? Eles precisam, talvez, colocar em dia toda onda de rejeição que por muito tempo sofreram dos mais intolerantes ou homofobicos. Eles precisam se auto-afirmar depois de séculos de negação. Hoje o mundo lhes convida. E eles, sem qualquer cerimônia, aceitaram estonteantes este convite. A auto-afirmação não atinge so a eles. Ë engraçado que essa necessidade de se provar, ou de provar aos outros é tão forte, que a auto-afirmação se completa na negação de uma outra posição. Suas atitudes normalmente são em detrimento de outra liberdade de escolha. Onde esta então a liberdade? Onde esta a auto-afirmação? Onde esta o respeito? Quem esta certo? Essas perguntas parecem não vagar na cabeça dessas pessoas tão preocupadas em recuperar o tempo perdido pela opressão. Aquela busca também não o agradava. Passou a entender que ele nunca precisara de auto-afirmação. Não precisava provar a sua capacidade de ser o homem da sua casa, apenas porque sua mãe assim o cobrava, ou porque havia perdido seu pai.Seu pai sabia do bom garoto que ele era e do grande homem que seria. Seu pai apostava nisso pela naturalidade do ser. Ele não precisava tentar provar isso para si mesmo ou para as pessoas. Ele não precisava se auto-afirmar. Apenas precisava viver, certo de suas convicções, daquelas que o faziam bem, que o traziam algum sentido. Nosso heroi então conseguiu notar também de que perdera muito tempo afirmando algo de que agora tinha certeza que negava.
Postado por
Rodrigo Seixas
às
18:04
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3 externalização(ões):
depois de ler as 4 partes do conto "O silêncio que mascara a razão"
tenho vontade de fazer um capitulo de uma telenovela.
aushuahsuahsuahsauhs
mais uma vez...
muito bom!
ahh... e amei o novo visual do blog!
Volto a lembrar, o teclado aqui é francês, dai as teclas são diferentes e a acentuação também. Não ha acento agudo para o "a" nem para o "o" nem "i", enfim, apenas para o "é", pa ja é uma tecla pronta. Desconsiderem estas falhas, e aceitem minhas desculpas. Obrigado Deisinha pelo comentario. Vamos fazer um curta? auehuaheua Beijo bozinho.
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